Ensaio de Orquestra - Vertentes do Cinema
Nino Rota é o autor da trilha sonora de todos os filmes de
Fellini. É um dos maiores compositores para cinema, também com
uma grande contribuição à música clássica. Mas a que o tornou
mundialmente conhecido e inesquecível no imaginário do espectador
são os acordes de O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford
Coppola. Por este trabalho, Nino foi indicado ao Oscar de melhor
trilha sonora, mas perdeu por ter reaproveitado a música já
utilizada no trabalho Fortunella (1958). Curioso também é o fato
de o estúdio do filme ser transformado num ambiente quase
ritualístico durante os protestos dos músicos. Com luminosidade
baixa, músicas mais tribais e calcadas na percussão excelente
trabalho de Nino Rota, que faleceu pouco depois e muitas velas, o
estúdio se transforma em uma verdadeira caverna. Não pode ser por
acaso, portanto, que uma das imagens mais destacadas do momento é
a projeção das sombras de uma mão em uma folha de partitura, como
se Fellini fizesse alusão à caverna de Platão. A grande sacada de
Fellini, porém, não é representar o fascismo por meio da figura
de poder de sua obra, mas sim mostrar a submissão dos músicos,
que passam a tocar como máquinas, desprovidos de qualquer emoção,
após a ameaça. Se formos ao ensaio sobre Da Violência, de Hannah
Arendt, encontraremos a filosofa refletindo sobre como a
violência é o último recurso para a manutenção de poder, que é
exatamente o que faz o maestro da obra de Fellini. Fellini
utiliza a orquestra, os instrumentos, os músicos e a música como
metáfora de uma sociedade em crise. Apesar de Fellini afirmar que
não tinha qualquer interesse na política, constrói um filme em
torno de uma orquestra que recusa a sua natureza coletiva, e onde
cada indivíduo tem uma visão egocêntrica do seu papel. Estão
apenas unidos pelo propósito de destronar aquele que entendem ser
o seu inimigo comum: o maestro.
O filme foi criticado por muitos. Alguns viram nele uma apologia
ao fascismo, outros apontaram que era uma abordagem política
ingénua.Foi consideradoreacionário e conservador. Mas para o
próprio Fellini,Ensaio de Orquestranão é nada disso. É uma
parábola ética para provocar uma certa vergonha no povo, para
mostrar que a loucura desorganizada das pessoas pode provocar a
loucura organizada do Estado, a ditadura. Com este mote,
interessa-nos também perceber onde está a liberdade do músico
dejazz. Onde está a liberdade coletiva e individual?
Ensaio de orquestra - Direção Tónan Quito
Texto e dramaturgia Filipe Melo e Tónan Quito a partir do filme Ensaio de Orquestra de Federico Fellini
Música original Filipe Melo
Interpretação Ana Brandão, António Fonseca, Crista Alfaiate, Tónan Quito e a Orquestra do Hot Club Portugal: António Quintino, António Morais, Bernardo Tinoco, Eduardo Lála, Eugénia Contente, Gonçalo Marques, Jéssica Pina, João Capinha, José Soares, Luís Cunha, Margarida Campelo, Paulo Gaspar, Pedro Felgar, Ricardo Sousa, Rui Bandeira, Rui Ferreira, Tomás Marques
O teor político do filme se torna manifesto quando a orquestra,
nitidamente descontente com o tratamento dado pelo maestro,
inicia uma rebelião no lugar. Instrumentos são quebrados,
cadeiras arremessadas e paredes são pichadas. Brigas se tornam
algo constante, e todos gritam para que o maestro abdique de sua
postura ditatorial. A situação só é resolvida quando uma bola de
destruição invade o lugar, ponto uma parede abaixo. Pacificados,
os músicos sentam-se em seus lugares e começam a ensaiar sob as
ordens do maestro. Fellini utiliza a orquestra, os instrumentos,
os músicos e a música como metáfora de uma sociedade em crise.
Apesar de Fellini afirmar que não tinha qualquer interesse na
política, constrói um filme em torno de uma orquestra que recusa
a sua natureza coletiva, e onde cada indivíduo tem uma visão
egocêntrica do seu papel. Estão apenas unidos pelo propósito de
destronar aquele que entendem ser o seu inimigo comum: o
maestro.
O filme foi criticado por muitos. Alguns viram nele uma apologia
ao fascismo, outros apontaram que era uma abordagem política
ingénua. Foi consideradoreacionário e conservador. Mas para o
próprio Fellini,Ensaio de Orquestranão é nada disso.
Música Filipe Melo com a Orquestra de Jazz do Hot Club de Portugal - Este espetáculo é uma adaptação do filmeEnsaio de Orquestra(1978) de Federico Fellini. No filme, uma orquestra de música clássica encontra-se num oratório para ensaiar, aqui é a Orquestra de Jazz do Hot Club de Portugal e o ponto de encontro é o palco do CCB.
Fellini utiliza a orquestra, os instrumentos, os músicos e a música como metáfora de uma sociedade em crise. Apesar de Fellini afirmar que não tinha qualquer interesse na política, constrói um filme em torno de uma orquestra que recusa a sua natureza coletiva, e onde cada indivíduo tem uma visão egocêntrica do seu papel. Estão apenas unidos pelo propósito de destronar aquele que entendem ser o seu inimigo comum: o maestro.
O filme foi criticado por muitos. Alguns viram nele uma apologia ao fascismo, outros apontaram que era uma abordagem política ingénua.Foi consideradoreacionário e conservador. Mas para o próprio Fellini,Ensaio de Orquestranão é nada disso. É uma parábola ética para provocar uma certa vergonha no povo, para mostrar que a loucura desorganizada das pessoas pode provocar a loucura organizada do Estado, a ditadura. Com este mote, interessa-nos também perceber onde está a liberdade do músico dejazz. Onde está a liberdade coletiva e individual?
Junho na Biblioteca de Alcântara
HomemBala. A partir do filme de Federico Fellini. Filipe Melo e Tónan Quito, texto e dramaturgia; Tónan Quito, direção; Filipe Melo, música; Ana Brandão, António Fonseca, Crista Alfaiate, Tónan Quito e a Orquestra do Hot Club Portugal: António Quintino, António Morais, Bernardo Tinoco, Eduardo Lála, Eugénia Contente, Gonçalo Marques, Jéssica Pina, João Capinha, José Soares, Luís Cunha, Margarida Campelo, Paulo Gaspar, Pedro Felgar, Ricardo Sousa, Rui Bandeira, Rui Ferreira e Tomás Marques, intepretação. Em um de seus filmes menos cultuados, Fellini compõe uma música em forma de filme, com direito a intervalos, movimentos e clímax. Mas a música é apenas um meio, pois o mestre italiano consegue ir além, e fala sobre poder, política e sociedade. Ensaio de orquestra é um estudo tanto sobre a opressão de governos ditatoriais, como também sobre a falência de um modelo de política e de sociedade, que destina as pessoas a baixar a cabeça e continuar trabalhando, mesmo que isso custe a felicidade e o prazer dos nossos passatempos favoritos, como a própria arte. Dessa caverna, porém, os músicos não puderam escapar. Usando a violência como forma de estabelecer a ordem e defender o poder, o maestro, que pode ser interpretado como um símbolo para qualquer líder opressor, garantiu que seus músicos continuarão alienados e subservientes. Ao fim deEnsaio de Orquestra, a ordem é restaurada e a repressão do agressivo líder recomeça e continua mesmo quando as luzes se apagam.